Abandonados na Estrada, Mas Firmes na Fé: Na Volta para Casa, Ônibus Quebra e Jovens Ficam à Mercê na Escuridão.

No último domingo, 27 de outubro de 2024, cerca de 80 adolescentes de Monte Carmelo (MG), com idades entre 14 e 17 anos, partiram em uma jornada de fé para o JDJ (Jornada Diocesana da Juventude), realizado em São Gotardo. A viagem, organizada com zelo pelos dedicados tios do EAC (Encontro de Adolescentes com Cristo), que se empenharam para garantir o bem-estar dos jovens, deveria ter sido um momento de espiritualidade e união, mas acabou marcada por dificuldades e preocupações inesperadas.

Às 4h30 da manhã, os adolescentes saíram de Monte Carmelo em um ônibus antigo cedido pela prefeitura, caracterizado pela cor laranja, rumo a São Gotardo, a cerca de 220 km de distância. A bordo, o compromisso dos tios do EAC era claro: proporcionar um ambiente seguro para os adolescentes. No entanto, no trajeto de volta, um dos veículos sofreu uma pane na rodovia, deixando o grupo parado na estrada por cerca de 40 minutos, sem apoio mecânico ou socorro da prefeitura.

  Enquanto os jovens aguardavam o socorro na estrada devido ao ônibus quebrado, eles se uniram em oração, demonstrando calma e união mesmo diante da situação difícil.

“Foi um momento de muita preocupação, não apenas pela segurança dos jovens, mas pela ausência de qualquer tipo de apoio”, relatou um dos passageiros, que manteve os pais informados ao longo do percurso. Após uma espera angustiante, os jovens tiveram que continuar o trajeto no mesmo ônibus, em condições precárias. O retorno, que deveria ter sido tranquilo, prolongou-se até que os adolescentes chegaram a Monte Carmelo somente às 23h30, após terem saído de São Gotardo às 18h.

A situação causou indignação entre os pais e moradores, que questionaram a escolha de transporte e a falta de manutenção de veículos para uma viagem de longa distância. “É lamentável que a prefeitura, com uma frota em melhores condições, tenha optado por enviar um ônibus tão antigo para uma viagem tão importante e significativa para nossos jovens”, desabafou um dos passageiros.

A viagem foi custeada em parte pelo próprio EAC, que pagou duas diárias de R$ 150,00 ao motorista, e muitos pais ficaram frustrados com a falta de suporte para um transporte que, segundo eles, estava aquém das expectativas, principalmente em caso de emergência. “Esses jovens buscam a Deus em um mundo cheio de desafios; o mínimo que esperamos é respeito e cuidado”, pontuou outro passageiro.

Este episódio levanta questões sobre a real condição dos ônibus utilizados. Estão eles preparados para viagens longas? Quando foram inspecionados pela última vez? Essas e outras perguntas precisam de respostas claras.

Fico pensando... Ironia amarga: há exatos 22 dias, o slogan do novo palanque ecoava pelas ruas da cidade: “Monte Carmelo Pra Frente, Sem Deixar Ninguém pra Trás.” Palavras bonitas, feitas para encher os ouvidos e corações, ditas por quem promete levar a cidade ao futuro. Mas, agora, resta a pergunta: quem está realmente indo para frente?

Naquela noite, cento e sessenta olhos jovens, cheios de fé, ficaram para trás, na estrada escura, sem proteção ou ajuda. Em nome da fé, embarcaram em um velho ônibus conhecido como “Cenourão”, com promessas de cuidado que não foram cumpridas. Se a juventude é a esperança da cidade, sua segurança não deveria ser prioridade?

Talvez, do palanque, o gestor enxergue as coisas de um ângulo diferente, com a fé de quem se vê como um cuidador de toda a cidade. Mas será que ele, entre falas e gestos ensaiados, se colocaria no lugar dos pais, que passaram a noite aguardando ansiosamente por notícias dos filhos? Ou será que essas realidades acabam perdidas entre promessas de “não deixar ninguém pra trás”?

Na prática, a fé verdadeira não abandona ninguém à própria sorte. Que, da próxima vez, as palavras ressoem como mais do que um slogan. Que quem vai à frente carregue a responsabilidade de olhar por todos – especialmente por aqueles que, movidos pela fé e pela esperança, embarcam em sonhos, ainda que seja num velho “Cenourão”.

O Jornal Sentinela Carmelitano tentou contato com a Secretaria de Obras e Infraestrutura do município para obter explicações sobre a falta de socorro para os adolescentes do ônibus cedido pela prefeitura. Contudo, até o fechamento desta matéria, nenhum representante da secretaria retornou as ligações. O Jornal Sentinela Carmelitano permanece aberto para manifestações da Prefeitura de Monte Carmelo e de seus representantes. A equipe de reportagem está à disposição para ouvir esclarecimentos sobre as possíveis falhas mecânicas e a falta do socorro. O espaço está sempre disponível para que as autoridades possam oferecer respostas e soluções para a comunidade.