Falta de Fitas de Glicemia em Monte Carmelo: Prefeito Paulo Rocha Alerta a População em Live, e Governo Estadual Esclarece Situação.
Na sexta-feira, 13 de setembro de 2024, o prefeito de Monte Carmelo, Paulo Rodrigues Rocha, fez uma transmissão ao vivo em suas redes sociais e fez um alertar a população sobre um problema grave: a falta de fitas de glicemia, essenciais para pacientes com diabetes monitorarem seus níveis de glicose. Segundo o prefeito, o atraso no fornecimento dessas fitas seria de responsabilidade do governo estadual, mais especificamente do governador Romeu Zema.
Em função da gravidade da situação, o Jornal Sentinela Carmelitano buscou esclarecimentos junto à Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Uberlândia, responsável por coordenar as ações de saúde na região. Perguntamos se o governo estadual estava, de fato, atrasando o fornecimento das tiras reagentes. Em resposta, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), por meio da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Uberlândia, enviou uma nota oficial que trouxe informações importantes e, de certa forma, surpreendentes.
Segundo a nota, "as tiras reagentes integram o Componente Básico da Assistência Farmacêutica, cuja responsabilidade de aquisição é dos municípios". O texto esclarece ainda que ‘’o estado de Minas Gerais colabora com os municípios disponibilizando uma ata de registro de preços, que facilita a adesão por parte das prefeituras interessadas. Contudo, os municípios também têm a opção de realizar seus próprios processos licitatórios para a compra dos insumos, desde que sigam as disposições legais’’.
Esse esclarecimento revela que a responsabilidade direta pela aquisição das fitas de glicemia é do município, e não do governo estadual. O estado apenas oferece suporte por meio da ata de preços, mas a gestão e aquisição são de competência municipal. Assim, o desabastecimento mencionado pelo prefeito Paulo Rodrigues Rocha pode estar relacionado a questões internas de gestão local ou à escolha do processo de compra.
Impacto do Diabetes e Responsabilidades Governamentais
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o diabetes é uma das principais causas de óbitos e internações no estado. Em 2024, até o momento, foram registradas 1.700 mortes e 5.545 internações relacionadas à doença. Nos anos anteriores, os números foram expressivos: 7.239 óbitos em 2021, 7.070 em 2022 e 6.467 em 2023, com internações variando de 16.071 em 2021 a 17.596 em 2023. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Diabetes destacam a necessidade urgente de conscientização sobre a doença, que afeta mais de 20 milhões de pessoas no Brasil, representando 6,9% da população nacional. Entre as responsabilidades dos poderes Federal, Estadual e Municipal, está a implementação de estratégias eficazes de prevenção e conscientização, além da garantia de fornecimento de insumos essenciais, como as fitas de glicemia. Essas fitas são fundamentais para que a pacientes com diabetes possam medir seus níveis de glicose e ajustar a quantidade de insulina que devem aplicar. Sem esse controle, os riscos à saúde são consideráveis. Como explica Márcio Lauria, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia em Minas Gerais: "Se a pessoa com diabetes diabético usar mais insulina do que o necessário, pode ter hipoglicemia e até entrar em coma. Se não medir a glicemia, acaba não aplicando insulina, o que eleva os riscos de complicações da doença".
Posição da Prefeitura de Monte Carmelo
Após a resposta da Secretaria de Estado de Saúde, o Jornal Sentinela Carmelitano procurou a Prefeitura de Monte Carmelo e seus secretários para obter mais informações sobre a falta das fitas de glicemia. Em contato com a Secretária de Saúde, Ana Flávia Novais e Silva, e o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação, Governo e Turismo, Fábio José Gonçalves, questionamos há quanto tempo o município enfrenta esse problema.
Também questionamos a prefeitura sobre o número de pacientes afetados. O jornal também buscou informações sobre eventuais medidas tomadas pela prefeitura em relação ao governo estadual para resolver a questão. Além disso, perguntamos se a prefeitura está considerando alternativas para garantir o fornecimento das fitas enquanto o problema persiste. Até o fechamento desta matéria, o município e seu secretariado não haviam se manifestado oficialmente sobre as ações perguntadas.
Entrevista com a Sociedade Brasileira de Diabetes
Com o objetivo de oferecer um panorama mais detalhado sobre a gravidade da situação, o Jornal Sentinela Carmelitano também procurou a Sociedade Brasileira de Diabetes para esclarecimentos. O Jornal Sentinela Carmelitano procurou a renomada Enfermeira Mônica Antar Gamba faz parte do Departamento de Diabetes, Neuropatias e Complicações nos Pés e é Profa. de Saúde Coletiva EPE-UNIFESP.
Jornal Sentinela - O papel do município no suporte a pessoas com diabetes é multifacetado e pode ter um impacto significativo na prevenção, tratamento e manejo da doença? Enfermeira Mônica - Não podemos afirmar que é multifacetado. Há hierarquização das ações de baixa a alta complexidade. Infelizmente, no Brasil, o diagnóstico do Diabetes Mellitus (DM) no Brasil é tardio e mais de 50% entre os acometidos desconhecem sua condição. Além da falta de controle intensivo da glicemia. A densidade de ações dos profissionais de saúde, além da falta de capacitação específica na área, os impede de realizar vigilância contínua das pessoas crônicas. Para além disso, os fatores ambientais, como o consumo de alimentos ultraprocessados, obesidade e sedentarismo, condições sócio-sanitárias, agravam a atenção à saúde de pessoas com diabetes.
Jornal Sentinela - O diabetes é responsável por quantas ocorrências de amputação de membros inferiores por ano? Enfermeira Mônica - O diabetes pode ser considerado a segunda maior causa de amputações, perdendo para os traumas. O diagnóstico tardio, tratamento inadequado e ausência de rastreamento de risco possibilitam uma situação alarmante que aponta que, no mundo, a cada 20 segundos, uma pessoa perde parte ou pé por consequência da doença. Estimativas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular apontam, em série histórica, cerca de 238.000 amputações decorrentes dessa causa. Que ocorrem em função da falta de autocuidado, tabagismo, neuropatia e/ou arteriopatia periféricas, deformidades nos pés e uso de calçados inadequados.
Jornal Sentinela - Qual a importância de os municípios realizarem a prevenção do pé diabético e garantirem que não faltem as tiras reagentes?
Enfermeira Mônica - É fundamental pela descentralização das ações para a monitorização glicêmica, uso de tecnologias apropriadas para a monitorização e o rastreamento de risco das ulcerações nos pés, precursoras das amputações pela doença.
Jornal Sentinela - Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do pé diabético? Enfermeira Mônica -Evitamos hoje falar em pé diabético. A linguagem importa, então o correto é falar em complicações nos pés decorrentes do diabetes. Os fatores envolvem: Controle glicêmico e das comorbidades, como a hipertensão arterial, tabagismo e obesidade. Falta de educação para o autocuidado; polineuropatia simétrica distal, ou seja, a alteração da sensação protetora nos pés, o que diminui a sensibilidade; alteração no fluxo arterial, o que diminui o aporte circulatório, aumentando a chance da doença arterial periférica. Deformidades pela limitação da mobilidade articular e uso de calçados inadequados.
Jornal Sentinela - O que é o pé diabético e como ele se desenvolve em pacientes com diabetes? Enfermeira Mônica - Como expliquei, o termo não deve ser mais usado. O correto agora é ulceração nos pés por diabetes ou UPD, que é a presença de uma úlcera ou ferida de espessura parcial (epiderme) ou total, podendo atingir as estruturas ósseas e também de lesões pré-ulcerativas, como a presença de bolhas, rachaduras, micoses e alterações ungueais como a onicogrifose e onicriptose ( aumento do espessamento ungueal e unhas encravadas).
Jornal Sentinela - Qual o impacto na qualidade de vida do paciente? Enfermeira Mônica - O impacto é indescritível, com sequelas incapacitantes, ônus pessoal, econômico e social, que podem levar a isolamento social, entre outros fatores.
Jornal Sentinela - Quais são as principais complicações que podem surgir se as úlceras não forem tratadas adequadamente? Enfermeira Mônica - Infecção, osteomielite, a perda do membro e, por vezes, da própria vida. É fundo offloding, ou seja, a remoção da carga nos pés para o alívio da pressão plantar. Além da confecção de órteses e calçados especiais.
Jornal Sentinela - Qual o papel da educação e conscientização na gestão da UPD? Enfermeira Mônica - Sabemos que a adesão depende de muitos fatores. Não há conscientização e sim EDUCAÇÃO para comportamentos adequados para o autocuidado, se apoiando em informações corretas, baseadas nas melhores evidências científicas e vigilância constante.
Jornal Sentinela - Que conselhos você daria aos profissionais de saúde para melhorar o manejo e a prevenção do pé diabético? Enfermeira Mônica - Capacitação técnica, engajamento, articulação com as sociedades de especialistas, atualização, respeito ético para o atendimento dos pacientes com muita responsabilidade.
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