Seca do Córrego Mumbuca e Represas Vazias Alarmam Moradores de Monte Carmelo: Especialista Aponta Soluções
Monte Carmelo vive um momento crítico: à beira da seca do Córrego Mombuca, uma das principais fontes de abastecimento hídrico da região, e o nível alarmantemente baixo das represas locais têm causado preocupação entre os moradores. A falta de água em alguns bairros principalmente nas partes alta começa a impactar no consumo doméstico.
Procuramos o município e os principais responsáveis pela gestão de abastecimento de nossa cidade no dia 06/09/2024.
Diretor do DMAE Anderson Pires, SEC.DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, INOVAÇÃOGOVERNO E TURISMO - Fábio José Gonçalves e fizemos as seguintes perguntas:
Qual a capacidade de armazenamento das redes de abastecimento de água de nossa cidade?
Além da represa da Santa Barbara, existe outra represa que abastece nossa cidade?
Quais as principais obras realizadas pelo DMAE nos últimos cinco anos para aumentar a capacidade de abastecimento de água em Monte Carmelo?
e não obtivemos respostas até o fechamento desta matéria.
Tendo em vista que o prefeito noticiou que a cidade, faltam 600 pessoas para 50 mil habitantes. E se a capacidade vai suprir às necessidades destes 50 mil habitantes? E não obtivemos respostas até o fechamento desta matéria.
Para entender o que levou a cidade a essa situação e quais são as possíveis soluções, conversamos com o Professor Dr. Manoel Lucas Dantas Filho, Pós-doutorado na área de tratamento e reuso de águas residuárias pela Universidad Politécnica de Catalunya.
Sentinela: Os moradores estão cada vez mais preocupados com a situação das represas, que estão em níveis críticos. O que pode ser feito para reverter essa situação? Prof. Dr. Manoel Lucas - Em caso de emergência, há duas soluções para aporte emergencial de mais água: a perfuração de poços para injetar água diretamente na rede (geralmente a solução mais barata) ou localizar uma fonte superficial mais próxima possível e construir uma adutora emergencial de engate rápido. Para o caso de adutora emergencial, há programas nacionais que fazem essas obras através de batalhão de engenharia do exército. A cidade de Currais Novos – Rn, por exemplo, com uma população próxima a Monte Carmelo, conseguiu em 2017 uma adutora emergencial de engate rápido de 20 km. Mas essa solução depende de movimentação política do prefeito da cidade junto aos políticos do estado.
Sentinela: Como a população pode colaborar para enfrentar essa crise? Prof. Dr. Manoel Lucas - Primeiramente, a população tem que abraçar o programa de racionamento de água, constituir comitês de vigilância permanente para evitar privilégios na distribuição dessa água e ajudar ao DMAE na logística de uma solução emergencial se ela vier a ser executada. Não há milagre, mas a força da população nesses casos é o que mais conta.
Sentinela: Por que, em pleno século XXI, muitos municípios ainda enfrentam falta de água, mesmo em regiões onde o problema poderia ser evitado com uma gestão eficiente? Prof. Dr. Manoel Lucas - São os câmbios climáticos que estão ocorrendo e muitos não querem acreditar ou aceitar que eles são uma realidade, nos pegam de surpresa, a natureza não pede licença antecipada, por isso o planejamento falha. E não se trata só de Brasil, eu mesmo moro em Barcelona, na Espanha e neste verão recebemos água através de barcos porque o sistema colapsou devido à seca hídrica. Estamos na rica Europa e foi bizarro se valer dessa solução. Pensou-se primeiramente em adutora emergencial de engate rápido, mas a solução emergencial foi “barco-pipa”.
Sentinela: Em outubro de 2014, aconteceu a mesma seca hídrica. Por que as ações preventivas nunca foram tomadas? E, por que muitos municípios não fazem esta prevenção já sabendo da seca que se aproxima?Prof. Dr. Manoel Lucas - O “ciclo de milankovitch” faz com que a cada dez ou onze anos tenhamos a influência do “El Niño” e algumas regiões do Brasil sofrem secas ou inundações. No caso de Monte Carmelo tudo indica que haverá sempre uma estiagem a cada dez anos. Esse é um fator recorrente que já é observado há cem anos na América do Sul e geralmente não é viável se preparar uma infraestrutura para ser utilizada a cada dez anos, sai muito caro, ninguém a faz, nem os países ricos. Tem-se que estar preparado para essas emergências que surgem a cada década com medidas e planejamento prévios, nunca medidas paliativas emergenciais.
Sentinela: Quais práticas de manejo sustentável poderiam ser adotadas pelas prefeituras para evitar a falta de água? Prof. Dr. Manoel Lucas -O manejo sustentável passa pela limpeza das calhas dos rios e córregos que alimentam os mananciais de superfície, também pelo limite de outorga dos direitos de uso de recursos hídricos, principalmente para áreas irrigadas que consomem uma enormidade de água, manutenção e operação adequada no sistema de abastecimento, evitando desperdício, dentre outros. É bom lembrar que todo agricultor é obrigado pela Lei Federal nº 9.433 a obter a outorga e, em caso de emergência, a prioridade é para consumo humano, a irrigação tem que parar.
Sentinela: Se os gestores alegam que não têm culpa, é importante perguntar: "Então, o que foi feito para prevenir essa situação?" e "Quais são as medidas que estão sendo tomadas agora? Prof. Dr. Manoel Lucas -Essa pergunta cabe ao DMAE responder.
Sentinela: Professor, temos relatos de que parte da tubulação de abastecimento da cidade ainda é feita de canos de amianto, um material já banido em muitos lugares. Quais são os problemas relacionados ao uso desses canos para o abastecimento de água? Prof. Dr. Manoel Lucas -No Brasil, a Lei nº 9.055 de 1995, que regulamenta a extração, industrialização, utilização e transporte do amianto, vetou o uso de todos os tipos pertencentes ao grupo dos anfibólios, deixando uma lacuna em relação ao amianto branco através do Art. 2º. Porém, desde 2017 o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional esse artigo 2º da lei e baniu o uso de todos os tipos de amianto no País. Dessa forma, não é mais permitido o uso desse material e toda a parte da rede de abastecimento construída com esse material terá que ser substituída, sob pena de os gestores serem penalizados criminalmente.
Sentinela: Além do risco à saúde, há outros impactos do amianto na rede de abastecimento? Prof. Dr. Manoel Lucas - Devido à rigidez da tubulação, é mais suscetível a rompimentos e os vazamentos são quase inevitáveis, aumentando o desperdício.
Os principais acometimentos relativos à exposição a amianto são:
- Asbestose: A doença é causada pela deposição de fibras de asbesto nos alvéolos pulmonares, o que reduz a capacidade de realizar trocas gasosas, além de promover a perda da elasticidade pulmonar e da capacidade respiratória.
- Câncer de pulmão: O câncer de pulmão pode estar associado a outros tipos de adoecimento, como a asbestose. Estima-se que 50% dos indivíduos que tenham asbestose venham a desenvolver câncer de pulmão.
- Mesotelioma: O mesotelioma é uma forma rara de tumor maligno, que afeta a pleura, peritônio, pericárdio e tunica vaginalis testis, podendo produzir metástases por via linfática em aproximadamente 25% dos casos (INCA, 2020).
Sentinela: Suas conclusões finais.
Prof. Dr. Manoel Lucas - Entendo que a situação de Monte Carmelo não é boa, mas a população tem que ter resiliência para atravessar o período de estiagem, agindo com sentimento cooperativo. Dei o exemplo de Barcelona para deixar claro que esse não é um problema apenas do Brasil, nem de vossa cidade. Trabalhei por quase cinquenta anos no Nordeste brasileiro e presenciei dezenas de cidades pararem seus abastecimentos por até seis meses seguidos, recebendo água apenas por carros pipa, um sofrimento sem fim. Não é o caso de Monte Carmelo que ainda tem água, apenas em quantidade insuficiente para o momento de estiagem.
Tremina o Professor Dr. Manoel Lucas Dantas Filho, Pós-doutorado na área de tratamento e reuso de águas residuárias pela Universidad Politécnica de Catalunya.
Comentários: